Separação após a tragédia familiar
Segundo Gislene, o avô Diogo veio da Espanha e formou família no interior paulista. Ele morreu ainda jovem, vítima de uma doença no estômago. A esposa, Irene, entrou em colapso mental após perder um dos filhos picado por cobra, e passou a vagar próxima à linha do trem, incapaz de cuidar das crianças.
Diante da situação, Elias Sabag decidiu encaminhar os quatro filhos — Antônio, Pedro, João e José — para destinos diferentes. Pedro e Antônio, os mais velhos, foram entregues a um orfanato em São Paulo e depois levados a Sorocaba. João e José, então com cerca de 2 e 4 anos, permaneceram com o fazendeiro, que era padrinho dos meninos.
Uma vida separada
Pedro Martins, pai de Gislene, permaneceu no orfanato até a maioridade, enquanto o irmão Antônio fugiu antes dos 18 anos e só foi reencontrado 42 anos depois, em 2020, na cidade de Sabino.
Dos dois mais novos, João e José, nada mais se soube. Elias Sabbag teria entregue os meninos a outra família, cuja identidade nunca foi descoberta. “Eles eram afilhados do senhor Elias e da dona Mary Sabag, mas ninguém sabe quem os criou depois”, relata Gislene.
Pistas antigas e buscas recentes
O último vestígio concreto data do início da década de 1970. Após deixar o orfanato, Pedro voltou a Lins e procurou Elias Sabbag, que na época já morava em São Paulo, em um apartamento na região central. O fazendeiro, já doente, afirmou que os dois irmãos estavam vivos, trabalhando para um produtor rural chamado João Ribas, em Promissão.
Pedro chegou a ir até a fazenda de Ribas, que confirmou ter muitos empregados, mas não conseguiu identificar os jovens procurados. A partir daí, as informações se perderam.
Uma promessa que o tempo não apagou
Hoje, com 76 anos e enfrentando o Alzheimer, Pedro fala cada vez mais sobre os irmãos que não vê desde a infância. Gislene tenta reconstruir a história por meio de lembranças e documentos. Ela acredita que João e José, nascidos entre 1951 e 1953, possam estar vivos e vivendo com outro nome.
“Meu pai ainda os procura, mesmo com a memória já fraca. É o maior desejo dele antes que a doença avance. Se alguém tiver qualquer pista, mesmo mínima, pedimos que entre em contato”, diz Gislene, emocionada.
As buscas se estendem agora à família do fazendeiro Elias Sabbag, que teria vivido entre Lins, Promissão e São Paulo. Um colaborador localizou descendentes de Sabbag nas regiões do Alto da Lapa e Jaguaré, na capital, e tenta confirmar se possuem alguma lembrança ou documento sobre os meninos.
“Qualquer informação pode ajudar a montar esse quebra-cabeça de mais de sete décadas”, reforça Gislene.